terça-feira, março 09, 2004

Trila na noite uma flauta
como um rasto
do pastor cego que perdeu o medo
Cabem no seu som as encruzilhadas
os corpos das mulheres e o entardecer
Os cães cabem
nos seus olhos abertos para o silêncio
das fendas abertas no rebanho
O bicho pequeno e resoluto
do som que ele tem
o passar manso e espraiado
do rebanho na encosta
amparam-lhe o trôpego caminho
de pedras e ladeiras e certezas
No fundo dos seus olhos a luz é uma flauta
e a noite irremediável não o vence.


(São 4.12 da manhã.Dou por terminada a tarefa de compôr o Blog. Que trabalhão, sobretudo quando não se pesca nada de html, como eu... Mas valeu a pena, não valeu? Está lindo, não está? ...Coisa mais linda da sua Equidna!!!

O poema é de 2001 e acho-o francamente bom. O melhor (dos poucos) que escrevi, para celebrar a minha pequena vitória, e a de todas as mulheres que como eu, ficaram em casa a dar uso às meninges em vez de irem dar uso às glândulas salivares para alguma ladies night.)

1 comentário:

éf disse...

Acho que os pastores não tocam a flauta à noite. Tal como assobiar, depois do sol deitar, dá azar. Mas enfim, é poesia.


;)